A educação da mãe tigre

Enquanto lia a Folha de São Paulo de hoje, me surpreendi com uma reportagem sobre o livro de Amy Chua, chamado "Battle hymn of the tiger mother", em português algo do tipo: O grito de guerra da mãe tigre. 

A autora, uma norte-americana descendente de chineses, defende um método polêmico para educação de crianças e adolescentes, segundo o modo tradicional chinês: pouca liberdade, nenhum elogio, muito estudo e cobranças. Para garantir o sucesso dos filhos os pais deveriam impor-lhes uma série de restrições, além de expressar sem constrangimento qualquer desaprovação às atitudes dos filhos. 

"Chame seu filho de lixo quando ele fizer algo que você desaprova. Exija que nunca tire menos do que nota dez no boletim. Proíba que participe de atividades recreativas, a não ser que ganhe uma medalha por isso. E que seja a de ouro, claro"


Não li o livro, que será lançado no Brasil apenas no segundo semestre desse ano. Não sei, portanto, se toda a polêmica se justifica. Mas o ponto chave da matéria é que a validade do método de Chua estaria garantida e comprovada pelo sucesso de suas duas filhas, provas vivas de que as regras da mãe funcionam.

Funcionam porque são duas jovens bem sucedidas aos moldes chineses e americanos: boas notas, boas escolas, obedientes. A questão aqui é então discutir esses marcadores sociais de sucesso.

A educação de jovens e crianças tem estado muito mais comprometida com esses marcadores do que em criar condições para que esses jovens se desenvolvam e madureçam para enfrentar o mundo.

Uma das tarefas principais dos pais é oferecer condição para que seus filhos se desenvolvam. Eles estão comprometidos e preocupados com o sucesso dos filhos, procuram boas escolas, buscam bons cursos e atividades. No entanto, o desenvolvimento de um jovem não é medido apenas pelas notas que tira, pelo comportamento em sala de aula, pela submissão à regras e ordens. É necessário um olhar mais cuidadoso.

Por exemplo, ninguém questiona a importância de um pai querer que seu filho se dedique as tarefas escolares, que estude, que busque boas notas. Mas se as nota se tornam a única e a principal preocupação, todo o processo de ensino e aprendizagem perde sua potencialidade.

Aprender algo novo não é tarefa fácil é necessário  abertura à novidade, flexibilidade, e principalmente curiosidade. Se o aluno aprende e transforma esse processo de aprendizado em algo que faça sentido para ele, teremos contribuído enormemente para que ele prossiga em seus estudos com independência e confiança.

Mesmo que não alcance a melhor nota da sala, ao entender como o seu processo de aprendizagem ocorre, a partir de seus referenciais, o jovem pode estabelecer condutas que potencializem seu estudo.

Por outro lado, pressionar uma criança ou um adolescente a ser sempre o melhor é injusto. Nós adultos sabemos que nem sempre somos os melhores, que temos nossas limitações. A difícil tarefa é justamente aprender a lidar com elas, a aceitar o fracasso, enfrentando-o, e não fazendo dele um final.

Proibir relacionamento, amizades, desenvolvimento de outras atividades não  parece razoável. Essas experiências ajudam a criança, o adolescente, a aprender a lidar com as diferenças, a se socializar, a desenvolver suas habilidades artísticas e especialmente sua criatividade, para que seja um sujeito capaz de se colocar no mundo com sua marca.

Toda educação conta com limites e moldura, que podem ser, de acordo com cada família, mais estreitos ou alargados. No entanto, educar é mais do que isso. Significa colocar  na vida, investir em valores, em socialização, em virtudes e  se fortalecer diante dos fracassos. É essa a difícil tarefa dos pais.


Autora: Marina Reigado I Psicóloga Clínica
Consultório Rua Guajajaras, 1470 - Barro Preto
Belo Horizonte I Minas Gerais