Esses dias, uma conhecida, mãe de um menininho de mais ou menos 05 anos, me contou estar muito preocupada com o filho. O menino em um dia de “fúria” jogou um brinquedo na TV de seu quarto e acabou quebrando o aparelho. A mãe disse que após o acontecido achou melhor não punir nem castigar. Segundo a mãe, o melhor castigo era o filho ficar sem sua TV.
A mãe me contou que depois disso observou que o filho ficou muito triste e chateado. Disse que essa não era a primeira vez que o filho tinha acessos de raiva e que acabava por quebrar brinquedos, enfeites da casa, utensílios do banheiro. A mãe conta que costumava deixar os castigos de lado já que o filho se sentia sempre tão culpado, quando via que quebrara mais alguma coisa, que nem havia a necessidade de castigos: a culpa do pequeno já era suficiente.
A conversa com essa mãe me fez pensar em como pode ser importante para as crianças esses tais castigos. Talvez, muito além de estratégias educativas, os castigos podem ser uma oportunidade para a criança expurgar sua culpa. O que quero dizer com isso?
Sabemos que é extremamente importante que a criança experimente, não apenas o seu poder destrutivo, mas também a sua capacidade de reparar e recuperar os objetos. Observamos que, logo que as crianças começam a dar-se conta do dano que são capazes de provocar, elas começam a se preocupar e a se sentir culpadas. A tendência é que, a partir disso, elas venham reparar os danos causados aos objetos.
Autores como Klein e Winnicott se debruçaram sobre esse assunto. O último, o psicanalista inglês, chama atenção para o “círculo benigno”. Trata-se do movimento contínuo do bebê destruindo e reparando os objetos – em especial a mãe – num movimento que possibilite a integração de sua agressividade. Dessa forma, o bebê experimenta tanto a expressão de sua agressividade, quanto também a sua capacidade de cuidar e reparar o objeto.
Essa experiência, só é possível se a criança dispõe de um ambiente que se disponibiliza para reconhecer e receber o seu gesto restaurador. É desesperador, para a criança, dar-se conta do dano que provocou e "não haver ninguém que receba o presente ou reconheça o seu esforço para reparar" (Winnicott, 1958b, p. 358).
No caso do menininho citado no início, a ausência de castigos lhe retirava a oportunidade de experimentar a capacidade de corrigir a destruição que causava, impedia-o de experimentar a possibilidade de restaurar o dano que causava a sua volta.
Deixar uma criança só, com sua culpa, talvez seja um castigo pesado e cruel demais para uma criança pequena. Provavelmente isso ajude a entender inclusive a tristeza e isolamento que a mãe observava.
Ao contrário, colocar de castigo, combinar trocas e formas de reparar o dano pode ser mais interessante por oferecer a criança condição de expurgar sua culpa, de quitar com o ambiente o estrago que causara, além de experimentar e reconhecer sua capacidade reparatória.
Se as idéias e atos reparadores têm êxito, a criança torna-se cada vez mais audaciosa e isso leva ao enriquecimento da experiência instintiva e da sua realidade psíquica.
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