Temos espaço para a tristeza?



Uma cultura onde é cada vez mais comum diagnósticos de depressão nos faz pensar se não temos ficado um pouco intolerantes à tristeza

É muito comum na vida cotidiana, assim como nos consultórios, ouvirmos relatos de pessoas que dizem estar sofrendo de depressão. Isso me faz pensar na importância de termos clara a diferença entre a tristeza e a depressão.

A depressão é um distúrbio com características que vão muito além da tristeza. O paciente deprimido sente-se sem energia; desmotivado; infeliz na maior parte do tempo – mesmo sem ter uma causa aparente; perde a capacidade de apreciar situações que antes lhe traziam prazer; deixa de conviver com amigos e familiares; pode sentir dores pelo corpo e mostrar-se mais ansioso ou irritado do que o normal. A depressão é uma doença altamente incapacitante e que requer auxílio e tratamento especializado.

Atualmente com o avanço e o desenvolvimento da psicofarmacologia tornou-se comum a indicação de anti-depressivos para casos que, muitas vezes, não se tratam de depressões propriamente. O desenvolvimento da psicofarmacologia transformou a tristeza em um sentimento evitável, crescendo, a cada dia, o número de pessoas utilizam a medicação para superar os momentos difíceis da vida.

A tristeza, por outro lado, é indício de que algo muito difícil nos acomete, nos toma. Ela é uma reação normal frente a situações de luto, de perda, de sofrimento. É um sentimento difícil, doloroso, mas importante na superação e elaboração. Vivenciar a tristeza permite que o indivíduo elabore suas perdas e se reorganize internamente, podendo superar a fase de dificuldade de maneira saudável.

O importante é ter claro que a tristeza não é uma doença, pelo contrário, é sinal de saúde e por isso não precisamos fazê-la desaparecer com o uso de remédios.

O apoio e a consulta a um profissional qualificado, capaz de identificar as diferenças e nuances de diagnóstico, possibilitam a indicação do tratamento adequado em casos onde o mal-estar vai muito além de uma tristeza. Nesses casos a utilização de anti-depressivos vem como um apoio fundamental para que o paciente reconquiste sua saúde e bem-estar.


Autora: Marina Reigado I Psicóloga Clínica
Consultório Rua Guajajaras, 1470 - Barro Preto
Belo Horizonte I Minas Gerais